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domingo, 4 de dezembro de 2022

Animus Universum - Lucas Anelli

Jô abre os olhos e está num quarto escuro. Não reconhece o local, mas consegue distinguir contornos. Aos poucos, seus olhos se acostumam à escuridão. Um ser de sombras aparece e se apresenta como Umbra. 

Umbra não explica absolutamente nada a Jô. Onde ele está? Por que ele não se lembra de absolutamente nada, sequer do seu nome? Umbra apenas reafirma que veio em paz, que quer o bem de Jô e que ele precisa passar por aquela portinha ali no canto para entender tudo que está acontecendo.

Sem alternativas, Jô passa pela porta e logo fica claro que ele não está no mundo real. As pessoas e os cenários são desenhos animados. Ainda tentando entender onde estava, Jô é atingido em cheio por uma bexiga d'água e, a criança que o atingira, torna-se seu guia por esse mundo fantástico. Juntos, vestem-se de super heróis e combatem vilões.

Terminada a missão, Jô cruza por outra porta e se vê numa magnífica floresta. Para te acompanhar na nova missão, surge uma força da natureza chamada Molittiam, que o ensina a sentir e curar seu corpo, encarar seus medos nos olhos e encontrar no inimigo algo que já existe dentro de si. Na floresta, mais um desafio o esperava.

E assim, porta a porta, Jô se vê um mundo totalmente novo e fantástico, enfrentando seus monstros internos e o preparando para os desafios da vida real. Uma verdadeira jornada de autoconhecimento para o personagem, o autor e os leitores.

Animus Universum é a primeira obra publicada de Lucas Anelli. Achei os incríveis os cenários descritos e os nomes criados pelo autor. É um livro de leitura bastante fácil e que prende bastante a atenção. As analogias utilizadas são bem naturais de se compreender, mesmo assim o livro não deixa de te surpreender aqui e ali. É perceptível que o autor passou por mudanças profundas na vida dele ao decorrer da narrativa; a parte final do livro parece ter sido escrita por outra pessoa. Mas isso não é uma crítica, o Lucas parece ser uma pessoa profundamente conectada com o seu interior e que dispensou bastante tempo pensando a respeito do lugar dele no mundo e isso fica claro na narrativa. Um autor para se ficar de olhos abertos.

sábado, 3 de dezembro de 2022

Amazônia 22 - Eduardo M. C.

No Brasil de um futuro distópico, os cidadãos brasileiros vivem em complexos gigantescos construídos suspensos sobre a Floresta Amazônica. Crescendo na floresta, fora descoberta por uma cientista anos antes a Vitória-régia Azul, uma mutação de difícil cultivo e reprodução em laboratório que tem propriedades extraordinárias de cura. A sociedade vive no que parece ser uma ordem e uma paz inabaláveis, onde cada casta desempenha seu papel sem questionar. Mas toda grande descoberta da humanidade, invariavelmente, vem rodeada de batalhas por dinheiro e poder, mesmo que por debaixo dos panos. 

Nesse contexto, vive a protagonista Ana. Sendo filha do comandante do complexo em que habita, Ana se beneficia de confortos e privilégios, burlando as as regras do complexo quando lhe convém, pois sabe que nada vai lhe acontecer. Apesar de viver a melhor das vidas, Ana se sente de certa forma deslocada. Detesta (quase todos) os seus colegas de colégio e não compreende muito bem o motivo. É quando chega em sua sala um novo aluno, Jonas, um ajustado, uma casta inferior treinada para servir. Jonas ganhara do governo a oportunidade de ascender socialmente, então precisa andar sempre nos trilhos e não chamar muito a atenção para si. Ana fica fascinada por Jonas, o que desperta ciúmes e ressentimentos dos seus colegas de casta Diogo e Felipe. E, por um acaso do destino ou não, os quatro se encontram numa missão especial do governo para descobrir onde está o documento deixado pela cientista sobre como reproduzir a Vitório-régia Azul em laboratório, garantindo soberania nacional.

Logo, Amazônica 22 torna-se uma verdadeira aventura com narrativa e contexto complexos, que envolve terroristas, contrabandistas, agentes dos governo infiltrados, cobra comendo cobra o tempo todo e, claro, personagens adolescentes passando por situações de reais perigos de morte (a marca registrada de Eduardo M. C.). Assim como Segredos do Ventos, é uma obra jovem que você não consegue largar até terminar. 

Recentemente, o autor lançou a continuação desta obra, chamada Semente Ancestral, já disponível para leitura. Com certeza está nas minhas próximas leituras de 2023.

Memórias de um sargento de milícias - Manuel Antônio de Almeida

Memórias de um Sargento de Milícias é a primeira de apenas duas obras do autor Manuel Antônio de Almeida, que morreu tragicamente muito jovem num naufrágio. Nesta obra, Manuel narra a vida de Leonardo, filho de imigrantes portugueses no Brasil colônia que se apaixonaram perdidamente no navio vindo da Europa, mas logo que se estabeleceram em solo  brasileiro começaram a vivenciar problemas conjugais. 

Poucos anos se passaram até seu pai descobrir o caso extraconjugal de sua mãe, que aproveitou o ensejo para abandonar filho e marido e fugir no primeiro navio com o amante. O pai de Leonardo, também Leonardo, simplesmente o largou à própria sorte. Vocês imaginem, se em 2022 quando a mãe falece ou vai embora o pai deixa os filhos com os avós, no século XIX não ia ser muito diferente. Vendo a triste situação, o padrinho de Leonardo filho, barbeiro de profissão, resolveu criar o menino como se fosse seu.

O padrinho tinha enorme carinho e amor pelo menino e, por vezes, fazia vista grossa as suas travessuras. Sim, Leonardo era uma criança travessa, mas apenas uma criança. E uma criança que a vida toda ouviu das pessoas a sua volta que ele não tinha futuro e não ia dar em nada. Ouviu tanto que acreditou, uma profecia auto-realizável. Tentou estudar, foi expulso da escola. Tentou ir pro seminário, foi expulso da igreja. Resolveu vagabundear e por aí se encontrou. Até que foi pego pela polícia por vadiagem e, ao invés de ser preso, preferiu ser cooptado pela polícia como sargento de milícias. Ah, esqueci de falar que no meio disso tudo aconteceu um romance morno com uma menina chata que no final o autor tenta nos fazer acreditar que era um grande amor reprimido.

Eu vou ser sincera: ou eu não entendi nada desse livro, ou ele é bem chato mesmo. Não dei uma risada, não me emocionei, não me afligi. Não entendi porque recebeu alcunha de clássico. A obra ainda é salpicada com expressões e termos muito racistas. Ok, é do século XIX e a gente precisa tentar não cair no anacronismo, mas, mesmo assim, ler certas coisas embrulha o estômago. Não recomendo. Vai ler Machado de Assis, pelo amor de Deus. 

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Libélula Azul - Rebekah H Lindsey

Quatro jovens universitários na Alemanha vão passar as férias acampando numa floresta na Rússia. Em meio a  um clima descontraído entre Sharie, Piero, Raphael e Sttela, e com uma leve tensão amorosa pairando no ar, Sharie é subitamente picada por uma libélula azul logo no primeiro dia de aventura. Biólogos, logo os jovens estranharam tudo: libélula azul? Libélula picando pessoas? Em meio a uma piora drástica no quadro de saúde de Sharie, consegue-se o telefone de um pesquisador inglês que coincidentemente estava na Rússia, que logo os ajudam com um helicóptero e uma internação compulsiva no hospital mais próximo.
 
Aos poucos, Sharie vai passando por processos biólogicos estranhos e se transformando numa libélula humana. Pairam agora as dúvidas: que libélula era aquela? Ela era natural? Como um inseto pode ter a capacidade de modificar o DNA humano? E, mais importante, é possível utilizar esse conhecimento de forma bélica?

Gostei da escrita da Rebekah, o texto tem fluidez e as idas e vindas no tempo na história foram bem construídas, o que deu dinamismo para a leitura. Eu só questiono algumas escolhas não convencionais da autora: os quatro jovens moram na Alemanha, mas dois deles são ingleses, e a história se passa na Rússia, mas Alemanha e Inglaterra não são locações que desempenham grande importância na história, o que, para mim, poderia ter sido simplificado. Outra questão é a descrição dos personagens: dois deles são um casal de irmãos gêmeos, mas as características físicas dos irmãos gêmeos não são coincidentes. Então a ruiva é irmã do loiro, e o ruivo é irmão da morena. Isso me trouxe uma dificuldade extra de conseguir dar cara e nome para os jovens e me fez me sentir um pouco de fora de tudo que estava acontecendo. 

Fora isso, é um livro que você começa a ler e não consegue mais parar, passando por cima de pequenos furos ou deus ex machina. É divertido, descontraído, e dá a impressão de que você está assistindo um gostoso filme de sessão da tarde.

Conselho Feérico - Várias autoras

O Conselho Feérico é uma antologia que reúne contos, onde diversas autoras fizeram releituras de "contos de fada", alguns largamente conhecidos, outros bastante obscuros. Ao final, há uma breve explanação do conto original, seguida de uma descrição da adaptação. Como em qualquer antologia, algumas histórias apetecem mais do que outras. De qualquer forma, foi uma iniciativa bacana, onde foi possível conhecer o trabalho de autoras extremamente competentes. Havia muito potencial, mas infelizmente a antologia foi boicotada pela própria editora, que não distribuiu os exemplares físicos a quem o comprou.